Prosseguindo no objetivo de aproximar o texto
dramático dos estudantes, passamos agora para a análise de três elementos do
texto: a personagem, a ação dramática e o
conflito. Todo o trabalho de análise do texto estará concentrado nele
mesmo, ou seja, toda interpretação deve partir das informações dadas pelo
próprio texto. Esta perspectiva rejeita a tendência “psicologizante” da análise
dramatúrgica clássica que quer crer na autonomia do sujeito-personagem.
AULAS 1 e 2
Análise geral dos textos.
ATIVIDADES:
1)
Distribuição
de uma cena para grupos e escrita no quadro dessa mesma cena.
2)
Escolha
de alguns estudantes para a leitura para todo o grupo.
3) Questões
aos estudantes: onde se passa a
história?, quem são as personagens?, o que determinada personagem quer?, o que
acontece?, como o conflito se resolve?
4)
Nova
leitura.
5) Na aula 2, os educandos podem responder às mesmas
perguntas em grupo ou mesmo individualmente em um papel para correção e
discussão posteriores.
***
Exemplo:
“O
Sonão”
(adaptação de
parte de um história em quadrinhos da Turma da Mônica de Maurício de Souza)
Quarto de Rolo no qual existem uma cama e
uma mesinha com alguns objetos. Rolo está deitado na cama dormindo.
ZECÃO (entrando no quarto e sacudindo Rolo). Rolo! Rolo! Acorda! Olha o
fim de semana aí!
ROLO (acordando). Zecão? O que está fazendo aqui em meu quarto?
ZECÃO. Não se lembra? Nós combinamos de
pegar uma praia hoje!
ROLO (colocando o travesseiro sobre o rosto). Não! Não me lembro de
nada! Boa noite!
ZECÃO (tentando animar Rolo). Que boa noite o que! O sol está brilhando
lá fora! (abrindo a janela) Veja só!
ROLO (gritando com a entrada da luz). Não! Claridade não! Sou parente do
drácula!
ZECÃO. Sai dessa, Rolo!
ROLO (voltando a fechar os olhos). Tá bom, Zecão, daqui a pouco eu
levanto.
Ouve-se o barulho de uma buzina de carro.
Rolo se assusta e dá um pulo da cama.
ROLO. O que é isso? O fim do mundo?
ZECÃO. Nada disso...
VOZ DE FORA. Rolo? Zecão? Vocês vem ou
não vem?
ZECÃO (respondendo à voz de fora). Calma aí! Rolo está quase pronto! (para Rolo) Pronto, vamos lá?
Rolo ignora Zecão.
ROLO (gritando). Rolo! Acorda, dorminhoco!!! Trouxe sua prancha
novinha...
ZECÃO (levantando). Trouxe? Tá bom, Zecão! Você me convenceu...
R.: a
história se passa no quarto de Rolo; as personagens são Zecão e Rolo; Zecão
quer ir à praia, Rolo quer dormir; Zecão tenta convencer Rolo a levantar de
diversas maneiras (sacode Rolo, falando sobre o sol que faz, abrindo a janela,
falando da prancha nova); Rolo se interessa pela prancha nova que Zecão diz ter
trazido para ele.
Ou o mesmo exercício com o texto A Bronca de Talita.
Recursos didáticos: texto.
Avaliação: momento de correção das respostas.
AULAS 3 e 4
A personagem, que teve
sua morte ou seu obsoletismo anunciados muito frequentemente por diferentes
teóricos, escritores e diretores de teatro, mostrou-se como parte essencial a
ser analisada, já que, segundo Jean-Pierre Ryngaert, “parece que a ficção
teatro tem necessidade da personagem na escrita, como uma marca unificadora dos
procedimentos de enunciação, como um vetor essencial da ação, como uma
encruzilhada de sentido.” Percebe-se que ainda não houve nenhuma investida no sentido de banir a personagem, tanto em relação ao texto quanto ao palco, que deixasse de ser marginal. Questões como o que a personagem
faz?, o que ela quer?, como é vista pelas demais personagens? e outras
informações dadas pelo texto orientam o processo de interpretação do mesmo.
ATIVIDADES
1)
Escrever
no quadro uma cena curta.
2)
Escolha
de alguns estudantes para leitura.
3)
Questões
aos educandos: qual título da cena?, o
título se refere a alguma personagem?, quem?, o que ela quer?, o que ela faz
para conseguir?, ela consegue?, como?, quais as características dessa
personagem de acordo com o texto?, quais as características das demais
personagens?, o que elas querem?, o que elas pensam da primeira personagem?,
onde estão essas informações?
4)
As
respostas devem ser sublinhadas no texto escrito no quatro ou anotadas em forma
de lista para serem relidas ao final.
5)
Na
aula 4, podem ser distribuídos texto individualmente e as respostas dadas no
próprio caderno.
***
Exemplo:
HORA DE ACORDAR
Sala de uma casa. Mônica está dormindo no sofá.
MÃE (abrindo a porta). Acorda, Moniquinha!
PAI (entrando). Essa menina tem dormido o
dia inteiro. Nunca vi tanta preguiça!
MÃE. Mas
ela é assim desde pequena: ama comer e dormir!
MÔNICA (acordando). Não somente isso, né? Gosto
muito de ler também...
PAI. Então
por que não levanta e vai fazer o dever de casa?
MÔNICA. Hum,
acho que vou dormir mais um pouquinho...
MÃE. Nunca
vi uma menina tão enrolada!
MÔNICA. Não
sejam injustos comigo! Ontem, estudei a tarde inteira e minhas notas na escola
são sempre altas.
PAI e MÃE. É
verdade...
MÔNICA. E
também divido as tarefas em casa!
PAI e MÃE. É
verdade...
MÔNICA. Sou
ou não sou uma boa filha?
MÃE. Você
é maravilhosa, minha filha.
PAI. E
nós te amamos muito!
MÔNICA. Também
amo vocês. Agora vou dormir mais um pouquinho!
FIM
*Áudios: "leitura 1 mônica", "leitura mônica 2", voz 17.
Qual título da cena? R.: “Hora de acordar”.
O título se refere a alguma personagem? R.:
Sim.
A quem? R.: A Mônica.
Por que? R.: Porque ela quer dormir e os
pais a mandam levantar.
O que
ela faz para conseguir o que quer? R.: Mostra aos pais os motivos que a tornam
merecedora.
Ela consegue? R.: Sim.
Quais as características dessa personagem de
acordo com o texto? R.: Dorminhoca, estudiosa, boa filha.
Quais as características das demais
personagens? R.: Injustos, carinhosos.
O que elas querem? R.: Que Mônica levante.
O que elas pensam da primeira personagem? R.:
Pensam que ela é comilona, dorminhoca, enrolada, maravilhosa, boa filha,
estudiosa.
Sublinhar no textos as respostas.
* Áudio voz 18
***
AULAS 5 e 6
Já a ação dramática pode ser sintetizada como aquela
parte de uma vontade consciente do herói visando um fim, um objetivo. Esta
qualidade pode ser encontrada tanto no ato de determinada personagem, quanto no
diálogo e até mesmo na inatividade, contanto que modifique o outro ou o estado
das coisas em si. O fato de suscitar outras vontades ou se defrontar com
obstáculos, ou seja, de promover a movimentação do texto, é que define a ação
como dramática.
ATIVIDADES:
1)
Escrita
no quadro de duas histórias: uma na qual constem “ações comuns” e outra com “ações
dramáticas”.
2)
Leitura
da primeira história. Os acontecimentos não estão necessariamente ligados uns
aos outros. Luana poderia ter vestido sua farda primeiro para depois ir até a
cozinha e isso não alteraria o enredo.
3)
Leitura
da segunda história. Mostrar aos estudantes que uma ação se dá em decorrência
da outra. Por exemplo: o despertador não toca, por isso, Luana acorda assustada e atrasada, por isso, corre até o banheiro, por
isso, cai no chão, por isso, acorda
sua mãe com o barulho da pancada, por
isso, sua mãe se levanta, por isso, a
encontra atrasada, por isso, Luana
mente, por isso, Bernadete se
preocupa e diz que chamará uma ambulância, por
isso, Luana fica com medo e se levanta, por
isso, Bernadete desconfia etc. Isso quer dizer que: se o despertador
tivesse tocado, Luana não se atrasaria; se Luana não estivesse atrasada, não
acordaria assustada; se não estivesse assustada, não levantaria correndo; se
não corresse, não cairia no banheiro; se não caísse, não faria barulho; se não
fizesse barulho, não acordaria sua mãe etc. É necessário que o estudante
entenda que quando uma ação é dramática ela provoca outra ação e disso depende
o movimento do texto.
Uma brincadeira que funciona (similar ao exercício
anterior) nesse momento, é começar a aula contando a seguinte história: Era uma vez um menino que adorava assistir
TV de manhã. Um dia ele acordou e foi assistir TV. Fim.” O que acontece nessa
história? Essa pode ser considerada uma boa história que outras pessoas teriam
curiosidade de ouvir? Existem ações nessa história? Existem ações dramáticas?
Etc.
4) Na aula 6, escreve-se de um lado a cena, do outro as
ações.
***
Exemplo:
Ações comum:
Um quarto onde dorme Luana.
Despertador toca. Luana acorda, olha para o relógio na parede, são 7:00h. Luana
se levanta, espreguiça-se e anda até o banheiro. Toma banho e vai até a
cozinha. Lá, bebe um copo d’água. Luana retorna ao quarto, abre o armário e
pega sua farda. Veste-se, calça o tênis e pega sua mochila. Já na sala,
encontra seu caderno, abre-o, lê alguma coisa e fecha-o novamente.
BERNADETE (entrando na sala). Você aí? Já vai pra escola, filha?
LUANA. Sim, mãe.
BERNADETE. E não vai tomar
café?
LUANA (feliz). Hoje, terá café da manhã na escola!
BERNADETE. Que maravilha!
Então, um bom dia!
Luana sai.
Ações dramáticas:
Um quarto onde dorme Luana. Após um
tempo, Luana desperta assustada, olha para o relógio na parede, são 9:00h.
LUANA (falando para si mesma e levantando). Estou atrasada!
Luana corre até o banheiro e,
quando vai tomar banho, escorrega no chão levando uma pancada.
BERNADETE (acordando). Que barulho é esse? (ao ver Luana no chão) Luana, já são 9 horas!
LUANA. Estou aqui desde 7
horas, mãe, sem conseguir levantar!
BERNADETE (preocupada). Então, nem vou tocar em você! Vou chamar uma
ambulância!
LUANA (ao ver Bernadete pegar o celular, com medo). Não, mãe, injeção
não! Já estou bem!
Luana se levanta.
BERNADETE (desconfiada). No chão desde 7 horas? Sei. Luana, depois precisamos
conversar!
Bernadete puxa Luana pelo braço. Saem.
Exemplo (utilizando também O Sonão)
(adaptação de
parte de um história em quadrinhos da Turma da Mônica de Maurício de Souza)
Quarto
de Rolo no qual existem uma cama e uma mesinha com alguns objetos. Rolo está
deitado na cama dormindo.
ZECÃO (entrando no quarto e sacudindo Rolo). Rolo! Rolo! Acorda! Olha o
fim de semana aí!
ROLO (acordando). Zecão? O que está fazendo aqui em meu quarto?
ZECÃO. Não se lembra? Nós combinamos de
pegar uma praia hoje!
ROLO (colocando o travesseiro sobre o rosto). Não! Não me lembro de
nada! Boa noite!
ZECÃO (tentando animar Rolo). Que boa noite o que! O sol está brilhando
lá fora! (abrindo a janela) Veja só!
ROLO (gritando com a entrada da luz). Não! Claridade não! Sou parente do
drácula!
ZECÃO. Sai dessa, Rolo!
ROLO (voltando a fechar os olhos). Tá bom, Zecão, daqui a pouco eu levanto.
Ouve-se o barulho de uma buzina de carro.
Rolo se assusta e dá um pulo da cama.
ROLO. O que é isso? O fim do mundo?
ZECÃO. Nada disso...
VOZ DE FORA. Rolo? Zecão? Vocês vem ou
não vem?
ZECÃO (respondendo à voz de fora). Calma aí! Rolo está quase pronto! (para Rolo) Pronto, vamos lá?
Rolo ignora Zecão.
ROLO (gritando). Rolo! Acorda, dorminhoco!!! (silêncio) Trouxe sua
prancha novinha...
ZECÃO
(levantando). Trouxe? Tá bom,
Zecão! Você me convenceu...
Ações dramaticas: Zecão entra no quarto –
Zecão encontra Rolo dormindo – Zecão sacode Rolo para que acorde – Rolo se
assusta – Zecão explica o que faz ali – Rolo coloca travesseiro sobre o rosto –
Zecão abre a janela – Rolo assusta-se com a luz – Zecão insiste para que Rolo
levante – Rolo desconversa e vira para o lado. Voz de fora apressando Rolo e
Zecão – Zecão mente para que esperem – Rolo volta a fechar os olhos – Zecão
grita – Rolo ignora – Zecão argumenta que trouxe uma prancha nova – Rolo se
levanta.
***
AULAS 7 e 8
O último elemento estudado será o conflito, entendido
de acordo com Renata Pallottini em Introdução
à dramaturgia, como a colisão entre uma vontade e obstáculos que podem ser
outras vontades ou não. Como vimos, a finalidade de uma ação só é dramática se
produzir outros interesses; dessa produção devem nascer os conflitos. Para
Hegel, um conflito deve crescer, intensificar-se, aumentar quantitativamente
para vir a resolver-se, servindo este entendimento também para o conflito
interior.
O conflito dramático, no fim, deve ser um
conflito social. A determinação inicial de um conflito central ou do desejo de
determinado sujeito ou de alguma das relações existentes no modelo actancial
proposto é o que pode nos dar a linha mestra, a coluna do texto para demais
observações sobre este.
ATIVIDADES
1)
Escrita
no quadro de textos dramáticos e identificação dos conflitos.
2)
Escrita
no quadro de um texto no qual há um conflito ao lado de outro no qual não há e
comparação entre eles.
***
Exemplo
Cena 1: casa
Sala
de uma casa. Thadeu, Martha e Flávia estão sentados à mesa tomando café da
manhã.
THADEU
(para Flávia). Minha filha, te
desejo muita boa sorte.
MARTA.
Eu também, tenho certeza que vai dar tudo certo. Tantos anos ensaiando essa
apresentação!
FLÁVIA.
Estou muito ansiosa, mas sei que me preparei!
Ouve-se
buzina de fora.
FLÁVIA
(levantando). Preciso ir! Quando
terminar, ligo pra dizer como foi.
MARTA.
Vá, minha filha.
THADEU.
Vai dar tudo certo.
Cortinas.
Cena 2: a prova
Flávia caminha rapidamente e chega a uma
portaria.
FLÁVIA.
Bom dia, vim fazer a prova de dança.
ZÉ. A
prova é só para maiores de 15 anos.
FLÁVIA
(feliz). Eu sei! Fiz 15 anos mês
passado!
ZÉ. Identidade,
por favor.
FLÁVIA
(procurando na mochila). Eu
esqueci.
ZÉ. Então
não poderá entrar.
FLÁVIA.
Vou em casa buscar!
ZÉ. O
portão fechará em 2 minutos.
FLÁVIA
(chorosa). Mas eu juro que tenho
15 anos...
ZÉ. Só
com identidade.
Flávia
começa a chorar e sai andando desapontada. Zé fecha o portão. Fim.
Há conflito na cena 1? E na cena 2? Onde
surge o conflito? Como Flávia tenta contorná-lo? O conflito se resolve ao
final? Etc.
***
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